Rosinha, Fernando

Nasci em 1938, em Avidagos, aldeia transmontana, ignorada e pobre, sem luz nem água. A uns 50 quilómetros mais longe, o grande Torga passeava com a sua voz revoltada, desafiando um poder absoluto. Sempre admirei as mulheres e os burros da minha terra, que passavam com o peso, elas na cabeça e eles no lombo.<br />Em 1950 conheci a civilização no Porto e, no seminário, um Deus exigente e misógino – descobri filosofia, teologia e poesia.<br />Acreditando pertencer a uma raça de eleitos, em 1966 deixei-me embarcar, aos 25 anos, para Angola. Durante 4 anos ensinei nos liceus e fiz muitas perguntas. Mas obtve poucas respostas.<br />Em 1970, de regresso a Lisboa, renunciei a esse mundo onde não me sentia ser eu. Escrevi o meu primeiro livro de poemas – Palavras Novas – e obtive o primeiro prémio de poesia em concurso nacional. Desiludido e magoado, como o poeta francês Rambeaud, esqueci teologia e poesia. Cheguei a Paris onde me formei em Engenharia. Um mundo mais duro e cruel, mas livre, no meio dessa beleza única de Paris. Em 1972, pela primeira vez, a mulher entrou na minha vida com a beleza da ternura, do amor e o carinho dos filhos.<br />Formado entretanto em Resolução de Conflitos, exerço essa actividade desde 2000, em Paris, e sou formador na Universidade Lusófona do Porto.