Editorial: Padrões Culturais Editora
Colección: Memórias ; 10
Número de páginas: 148 págs. 23.0 cm
Fecha de edición: 01-01-2012
EAN: 9789897090301
ISBN: 978-989-709-030-1
Precio (sin IVA): 14,50 €
Precio (IVA incluído): 15,08 €
A Companhia dos Corvos é uma memória da guerra colonial que fiz em Moçambique de 1963 a 1966 e os corvos que lhe dão o nome não são a consigna da minha Companhia de Caçadores, são corvos mesmo, crocitando ao redor do Posto Administrativo do Unango, no distrito de Vila Cabral.
Como hão-de ler, os corvos caíam que nem tordos, primeiro para afinar a pontaria, depois para comer na brasa, com umas pedrinhas de sal por cima e piripiri a gosto.
Para além dos corvos que ainda por lá voarão, peço-lhe que não queira identificar mais ninguém nestas memórias, porque as fui ajeitando ao longo dos anos, outros tantos fizeram o mesmo, o que permite que cada um apresente a sua própria versão de qualquer acontecimento.
Bom exemplo é o de Gustavo que, tendo regressado da guerra sem uma beliscadura, transformou em cruz de guerra a cicatriz que sofreu na coxa, muitos anos depois, em banal acidente de viação. Mas, se lhe prestar atenção, também é capaz de escutar o tiro do canhangulo que lhe fez a ferida e de elogiar a intrepidez com que resistiu.
Estas memórias são para os meus camaradas, principalmente para aqueles que mantêm, no corpo ou na mente, um contencioso com a guerra colonial que ainda têm medo de perder.
Eu há muito que me deixei disso e a minha filha que, na minha guerra, só existia nos aerogramas de amor que eu trocava com a Edite, dir-vos-á que sou, definitivamente, um Homem de Paz.