Editorial: Companhia das Ilhas
Colección: Biblioteca açoriana ; 2. Obras de José Martins Garcia ; 1
Número de páginas: 232 págs. 22.0 x 14.0 cm
Fecha de edición: 03-10-2016
EAN: 9789898828026
ISBN: 978-989-8828-02-6
Precio (sin IVA): 18,40 €
Precio (IVA incluído): 19,14 €
Mas de que fome se trata? Aqui também temos duas perspectivas notórias: uma é a fome primária, estomacal, fisiológica, que corrói as vísceras de António Cordeiro, a fome de costeleta e de bife, que inclusive navega a bordo do mítico Carvalho Araújo que levou o protagonista – e várias gerações de açorianos – para Lisboa, onde ele desembarca “em Alcântara, sem tostão no bolso.” Na Capital, a fome não dá tréguas, vitimizando-o “o cheiro da comida, o apelo da comida, a imagem da comida, a alucinação da comida”, em que o ícone é uma saborosa costeleta entrevista num restaurante. Já na universidade, António Cordeiro “prolongava o jantar para além dos limites razoáveis. Mastigava cuidadosamente...”, tudo isso para enganar a fome. Essa carência absoluta faz com que declare, a páginas tantas, “Sempre me foi a fome uma entidade familiar. Profissão: faminto – eis o que não consta nos arquivos deste planeta.” A outra fome é mais sofisticada, é fome metafórica, mas não menos dolorosa: é a constituída pela ausência de tudo o que dá dignidade e conforto à existência, é tudo aquilo que António Cordeiro não tem e que tanto deseja, embora não lhe seja perfeitamente claro o que isso seja.