A lira dileta e a lira da rebeldia

antologia poética

Silva, Joaquim Moreira da

Não é preciso distinguir na obra de Moreira da Silva nada que seja ao gosto popular — porque tudo o é, em qualquer dos sentidos que costumam acompanhar o uso, ou o abuso, desse adjetivo. Nem outra coisa seria de esperar de um homem que nasceu do povo — de gente pobre e trabalhadora; que, carpinteiro e camponês (que casou com uma camponesa), viveu no povo, com o povo, e como povo, nas terras de Vilar e de Soutelo, com uma breve passagem pelo Porto; e que claramente viveu também para o povo, já que nunca deixou de ter os olhos postos nos humildes e nos ignorantes, que quis divertir, esclarecer e educar (chegando até a versificar um método de leitura), e recusando compromissos com os poderosos da economia, do governo, da administração, da igreja, que impiedosa e incansavelmente ironizou e desmascarou, sem temer as prisões em que mais do que uma vez o meteram, e a partir de ideias ou ideais anárquicos simples mas veementes e generosos.