A Sobrevivente

Direitos e Deveres da Mulher Rural no Séc. XX

Matos, Aurora Simões de

Realidade e ficção, em contextura que lhes atribui o mesmo peso. Tentar distinguir, em A Sobrevivente, onde acaba uma e começa a outra, desvalorizando qualquer que seja, é correr o risco de falsear a memória de uma vida que certamente ambas experimentou. Vida simples e digna, igual a tantas outras e diferente de todas elas. Vida que a nossa protagonista relembraria, em conversa no Lar da Santa Casa da Misericórdia de Castro Daire, quando ali a visitei na Primavera de 2012. No ressuscitar de lembranças com a marca indelével de um conformismo salpicado de certa amargura, onde se liam ainda ténues sinais de força e entusiasmo, Tia Céu, como carinhosamente continuaremos a tratá-la, acabaria por, nesse dia, personificar, a nossos olhos, a carismática brandura e a grandeza austera das mulheres desta imensa e simultaneamente intimista região da beira-Paiva e Montemuro. Com a singular diferença de ter sido, dentre todas elas, a única a atravessar com vida, sorrindo ou chorando, 110 anos de amores e outros tantos de dores.