Editorial: Chiado
Colección: Passos perdidos
Número de páginas: 352 págs.
Fecha de edición: 15-12-2014
EAN: 9789895124480
ISBN: 978-989-51-2448-0
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Precio (IVA incluído): 16,74 €
E a vida?...
As pessoas trabalham, trabalham, à espera de um dia em que possam realizar os seus sonhos, fazerem aquilo que não tiveram nunca a oportunidade de fazer, encontrarem-se finalmente frente-a-frente consigo mesmas e dizerem, «Agora vou ser eu; o tempo doravante pertence-me por espaço de uma breve eternidade em que terei a ilusão de coincidir com a minha liberdade». Claro que muitas vezes isto não passará de um sonho, mas a verdade é que as pessoas vivem (ou melhor: sobrevivem) em função dele, vão adiando a sua verdadeira vida para esse momento, o momento em que irão ler todos os livros que não puderam ler, escrever todas as páginas que não puderam escrever, plantar amorosamente a sua árvore e lançar à terra as suas sementes criadoras, colorir o mundo das suas cores de fantasia, enfim entregarem-se a uma actividade criativa, não servil, não utilitária, de plena doação ou, pelo menos, de não submissão a uma pura lógica de produtividade. Foi esse sonho que deu estatuto de direito ao ócio criador (o «direito à preguiça» de Paul Lafargue) – uma ideia de Esquerda, quando esta ainda estava imbuída de uma energia transformadora. Como esse tempo vai longe! Hoje proliferam os ideólogos neoliberais do trabalho servil e mesmo escravo, pregando a abdicação dos «direitos adquiridos» (com as devidas aspas segregadoras) e da subjectividade dos indivíduos, em nome de um único valor – a competitividade. Um trabalho cujo tempo de servidão se procura expandir até ao limite da resistência biológica. Deixarás de trabalhar quando apenas te reste morrer. Adiar a vida para quê? «Às duas por três nascemos/ Às duas por três morremos/ E a vida?/ Não a vivemos» (Alexandre O’neill).