Abade de Faria

O Luso-Goês criador do Hipnotismo Científico, precursor da Psicanálise : No bicentenário da sua morte

Morais, J. A. David de

José Custódio de Faria (1756-1819), Abade de Faria para a posteridade, autor do livro De la Cause du Sommeil Lucide ou Étude de la Nature de l’Homme, obra matricial do hipnotismo científico, em que estudou a mente humana, foi um injustiçado da História que, sumária e negligentemente, o olvidou, não obstante ele ter sido um homem à frente do seu tempo. À luz dos conhecimentos actuais sobre os estados de consciência, em especial no que respeita ao sono não pode deixar de surpreender que Faria tenha então conseguido ir tão longe, empiricamente, onde agora chegam as modernas abordagens científicas.
Aliás, a sua obra foi um dos esteios em que se edificou a Psicanálise: Sigmund Freud, quando fez formação clínica em França (Paris e Nancy), aprendeu a técnica de sugestão hipnótica criada pelo Abade e utilizou-a na fase inicial da sua carreira médica.
Todavia, com o devir do tempo, o nome do Abade de Faria subsistiu quase só graças ao popular romance de Alexandre Dumas, O Conde de Monte Cristo. Dado que existe basta documentação historiográfica que comprova que, nas suas obras, Alexandre Dumas recorria, frequentemente, à ‘colaboração’ de vários outros autores (é a perene questão dos "nègres literaires" de Dumas, já então dilucidada por vários críticos literários seus coetâneos), no presente livro abordar-se-á, também, a candente problemática da génese e autoria do personagem ficcional Abade Faria daquele romance.