Leonel Coelho, meu avô

Augusto, Rafael

Neste pequeno livro, escrito a convite de um jornal local cerca de um ano depois da morte do meu avô, fugi ao que seria uma tendência natural ao escrever sobre Leonel Coelho. Dada a riqueza da sua vida, seria difícil não enveredar por uma enumeração de feitos e uma descrição de percursos. Mas não fiz nenhum. A minha escrita, o meu olhar, pensei, podem oferecer mais - e menos - que isso. Estando toda a informação biográfica disponível a interessados - sobre a feira do livro que criou e carregou, a política e o associativismo, a prisão, etc. - moveu-me e interessou-me, muito mais do que informar, a tarefa de pôr em livro o seu espírito, a sua alma. A tarefa de animar estas páginas, de as tornar vivas ao ponto de permitir a um leitor, que não o conheceu em vida, conhecê-lo em morte, expondo-se às várias dimensões do seu caráter.
Naturalmente, o livro acaba por não ser apenas sobre ele, mas sobre nós e a nossa relação. Sobre o meu avô, Leonel Coelho, e os vários níveis a que se ligava a mim. E é isso que cada capítulo representa: uma dimensão, tanto do seu caráter, como da sua imagem na minha psique. O primeiro capítulo expõe o leitor à sua presença local - não a ele, mas à forma como é visto. Esse capítulo introduz uma espécie de grandeza que, sentindo-se aí, se explora nos capítulos seguintes: o seu papel enquanto mestre de gerações, como personagem cómica, social, de um caráter criativo e original, e, por fim, as dimensões mais pessoais: amigo e avô.