Editorial: Bicho do Mato
Colección: Textos de teatro
Número de páginas: 92 págs. 20.0 x 13.0 cm
Fecha de edición: 05-05-2025
EAN: 9789898349842
ISBN: 978-989-8349-84-2
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Num dia improvável, mas muito possível ou mesmo inevitável, toda a gente decidirá não sair de casa. O mundo parará e fará greve de si próprio.
Nesse dia, haverá tempo para pensar, para respirar, para chorar copiosamente por todas as atrocidades cometidas só por excesso de adrenalina, testosterona, estupidez ou maligna estratégia geopolítica. Depois, e só mesmo para quem pode, alguns farão uma sesta. Outra tanta gente tomará um banho. Muitos e muitas serão os e as que limparão o ranho à camisola e ajeitarão a pouca roupa que trazem no corpo. Voltaremos a sair. Daremos o braço a um próximo, a uma vizinha, a um desconhecido, a uma mãe, a uma filha. Sem nenhuma outra razão aparente que não um «estava a ver que nunca mais!», desceremos todas as avenidas e chegaremos a esta praça. A praça que é uma escola, que é uma troca, que é o lugar para todas as classes e para todas as possibilidades. Trocaremos impressões. Trocaremos acepipes. Trocaremos propostas para os próximos cinquenta anos de Abril. Ocuparemos as ruas, que é tudo o que precisamos para as transformar. E, sem nos darmos conta, de longe chegar-nos-á aquele som dos passos arrastados na gravilha, aquele ritmo moreno que toda a gente conhece. O passo faz-se compasso, o cante desfaz-se em manifestação. A manifestação desarruma-se em marcha. A marcha dissolve-se no ar mas não se desvanece. A sua vibração mantém-se no ar e nas ruas e volta a lançar na música o mote! A noite cairá.
Convocamos a vossa presença com o pôr do sol para um primeiro minuto do vosso silêncio, enquanto respiramos esta ideia memorável de uma revolução precedida de uma greve do mundo.
O Amanhã é inevitável e começa hoje.