Editorial: Perfil Criativo Edições
Número de páginas: 224 págs. 24.0 x 17.0 cm
Fecha de edición: 03-04-2017
EAN: 9789899839892
ISBN: 978-989-98398-9-2
Precio (sin IVA): 23,00 €
Precio (IVA incluído): 23,92 €
«Desloca-se João por um carreiro, que caprichosamente serpenteia pela montanha. Se não o identificarmos poderá ser qualquer habitante das aldeias mais próximas, passando a ser, para todos os efeitos, «o habitante das aldeias mais próximas». Se toda a Humanidade couber nessas aldeias próximas, será defensável dizer que esse montanhês é a Humanidade. A identificação de cada indivíduo com a Humanidade permite a quem escreve ser o veículo de personagens que se apossam dos momentos presentes e do futuro, sem as preocupações que nos condicionam e permitindo a criação de dia-a-dias especiais. Por isso, elas são lidas e ganham vida, pela imaginação dos seus leitores. Assim, ele e ela, João e Maria, membros de uma espécie binária, tornam-se seres maravilhosos, próximos do divino da criação. O ponto de partida da personagem que toma conta e preenche o escrito é um ser sem nome, distante, envolto numa névoa que potencia todos os atributos da natureza humana. Se o montanhês adquire personalidade e passa a ser o João ou a Maria, então está pronto para se transformar quer numa personagem, quer num número de uma estatística. Estou ciente que se fosse dada a oportunidade de escolher ao João ou à Maria prefeririam ser personagens de um escrito. E quem escreve percebe facilmente as razões de tal escolha: conduzem mais do que são conduzidos e moldam o mundo que o futuro irá construir. Daí o carácter divino das personagens e o domínio que exercem naquilo que se escreve. Na cidade africana da Praia proliferam as pessoas anónimas que, pelo seu carácter, facilmente emprestam a alma de onde nascem as personagens, vestidas para dominar-nos e dominar. Pessoas que, como eu, vivenciam os sítios escondidos da cidade e disso retiram prazer e expectativas e que, com facilidade, se transformam em amigos e amigas. Sobre a memória destes amigos e amigas nasceram as personagens que me conduziram por estranhos caminhos e que elegeram rainha, entre tantos, Múrcia, uma deusa-menina. Alguns irão descobrir pedaços de seus caracteres nas personagens que a acompanham. Espero que gostem dos seus genitus. As personagens que criaram este escrito fazem acreditar que o ser humano ocupa, de facto, um lugar especial no universo, e, logo, que cada indivíduo ocupa esse centro - necessário. Assim sendo, e em consequência, nada pode ser reservado a uns poucos. Ou seja, tudo, incluindo questões como a filosofia, a política ou a economia, deve ser tratado enquanto se faz o que consabidamente todos fazem – e que constitui o que designamos do dia-a-dia. A filosofia, a democracia e o desenvolvimento (a teoria e a estratégia) são os pressupostos que tornam efetiva a busca dos instrumentos e do contexto que conduzem à felicidade do indivíduo e ao encaminhamento da Humanidade. O facto de a Humanidade ser uma espécie binária faz com que ele e ela tenham formas tão diferentes de sorrir. O que torna possível a produção do espanto e do sobressalto que são as portas do amor e da paixão. Por isso, a paixão domina as minhas personagens, o que as faz impositivas e exigentes de espaço. Ah! Outro pensamento: muitas vezes, o sorriso que encanta e faz sonhar o João encontra-lo noutro João, o mesmo se passando com a Maria que noutra Maria encontra quem lhe faz bater mais depressa o coração. A característica humana da homossexualidade cinde o núcleo binário da espécie e torna muito mais interessante (pelo menos) a literatura e facilita o equilíbrio da criação escrita. No escrito que se segue, o leitor encontrará um capítulo (o IX) que corresponde a um pré-capitulo, que descreve o universo a que pertencem todas as personagens e que nos fornece o seu enquadramento. Querendo, poderão - aqueles que se interessam sobretudo pela vida das pessoas que constroem as ideias - saltar este capítulo e, talvez, regressar a ele, depois de concluir a história narrada pelas personagens. Outros, diferentemente, poderão começar por ler o dito capítulo, antes de ler o primeiro, onde tudo começa. Este capítulo IX decorre no Farol da cidade, que ditou que a cidade seja o que é, e talvez por isso Múrcia e o Sr. Óscar escolheram o sítio para nos apresentarem o mundo do seu entendimento. Do Farol, em dias especiais, ouve-se sons e suspiros que vêm do outro lado da baia, da tabanca da Achada Grande. Nesses momentos, as ondas regurgitam e, contrariando a natureza das coisas, nascem dos rochedos para o mar e quem assiste ao fenómeno reforça qualquer convicção que transporte consigo, mesmo as que tresmalham de mundos por inventar.»