Ferreira, Teresa Cunha
Urbano, Luís
Editorial: Afrontamento
Número de páginas: 192 págs. 23.9 x 17.0 cm
Fecha de edición: 02-05-2022
EAN: 9789723619317
ISBN: 978-972-36-1931-7
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Precio (IVA incluído): 28,08 €
Todos os anos, nas marés vivas, o mar leva o que não é essencial. Naquele sítio, um maciço rochoso interrompe três linhas paralelas: encontro do mar e do céu, da praia e do mar, longo muro de suporte da via marginal. Alguém pensou em proteger uma depressão desse maciço, utilizando-a como piscina de marés. Mas o Atlântico não é o Mediterrâneo, nem é simples construir uma piscina onde poucas se fazem; tratamento da água, captação difícil, regulamentos exigentes. «O melhor é chamar um arquitecto». Nada mudou profundamente.
O edifício dos balneários está ancorado como um barco no muro da marginal. Dali não sai. Alguns muros em betão sustentam a cobertura em riga e cobre e apoiam os percursos de acesso à piscina. Esses percursos existiam (em terreno difícil, as pessoas sabem onde pôr os pés), a piscina existia, os muros são paralelos ao suporte em granito da avenida, do qual apenas se destacam. Aqui e além pequenas intervenções consolidam as plataformas naturais.
Nas primeiras marés vivas o mar levou um pedaço de muro, corrigindo o que não estava bem. Durante sete anos ainda, como Jacob, o arquitecto estudou os remates, a norte e a sul, onde era difícil a entrega do que se fez ao que existia. De tal sorte que daí resultou um plano da marginal, entregue e prontamente pago. Mas tudo foi considerado inútil: o arquitecto apenas tinha escolhido onde pôr os pés e aonde não ir, temeroso dos perigos das rochas e do mar. E alguém disse: «qualquer um sabe onde pôr os pés, e é suposto que um arquitecto ponha os pés em sítios diferentes dos de toda a gente.» E logo o despediram.