Editorial: Companhia das Ilhas
Colección: Obras de Mário T. Cabral
Número de páginas: 92 págs. 22.0 x 14.0 cm
Fecha de edición: 01-01-2025
EAN: 9789899154506
ISBN: 978-989-9154-50-6
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Com certeza o príncipe antes de nascer já sentia a sombra dos altíssimos campanários sobre toda a sua casa ancestral. A igreja fica tão próxima que no dia do terramoto de 80 a derrocada das imponentes torres, tão elevadas no céu aberto que visíveis das outras ilhas ao longe, iam perigando a propriedade. O velho barão, ao tempo ainda vivo, pensou que morresse, pois ia a entrar quando os grandes blocos de pedra caíram, como num filme em que fossem de papelão, entulhando a rua mesmo à sua frente, ele colando-se à parede, alvo de pânico. Uma das agulhas pára-raios, em bronze, que no alto parecem de bordar, caiu dentro do jardim, como se fora uma farpa descomunal no torso de um touro de praça, o Minotauro, para respeitar a proporção; foram precisas máquinas para de lá retirarem o obelisco. À época da construção do templo ainda foi autorizada uma passagem privada, em forma de arco, que liga o palácio ao templo, espécie de canga ou, de maneira mais moderna, espécie de assinatura da ajuda material dos Saavedra & Candelária, que doaram as terras do chão, e muito mais. Seja como for, em tempos democráticos, como os nossos, quase nunca é utilizada esta passagem, como que privilegiada; embora, na verdade, o charme que empresta como abertura da rua principal da freguesia seja irrecusável. Da porta envidraçada do salão nobre são agradáveis de contemplar as sineiras onde se guardam as pombas, se é que são capazes de dormir lá agora, depois de a junta de freguesia ter iluminado o monumental edifício. Com certeza o príncipe há de ficar indeciso, como todos os paroquianos, entre gostar do efeito de presépio ou de se arrepiar com a lembrança exactamente avessa que os pináculos sugerem: abóboras de Halloween.