O laberinto literário de Miguel Torga

Veiga, Norberto Francisco Machado da

Tanto como pela qualidade da sua escrita, Miguel Torga vale pela afirmação de uma indomável apetência de liberdade e de salutar rebeldia ante toda e qualquer opressão e, por outro lado, vale pela obstinação em nunca renegar as suas raízes rurais e, antes pelo contrário, dar na sua obra um orgulhoso, permanente e consistente testemunho desse mundo remoto em extinção. Isto é: em Torga não devemos deixar que o escritor ofusque nem o cidadão que se afirma pela consistência e pela verticalidade nem o fiel depositário de um património imaterial que o marca e lhe guia os passos. Miguel Torga não tem apenas a preocupação de construir uma obra literária consistente. Tem igualmente preocupações de natureza ética e antropológica, e quanto a estas últimas, está permanentemente aberto às manifestações culturais do povo trasmontano, em que descobre um sentido transcendente, quase sagrado.