Editorial: Padrões Culturais Editora
Número de páginas: 416 págs.
Fecha de edición: 01-01-2013
EAN: 9789897090585
ISBN: 978-989-709-058-5
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Foram muitos os psiquiatras, entre os quais me incluo, que devem a sua formação à escola e importante influência de Barahona Fernandes. O seu estímulo intelectual, a sua visão duma psiquiatria antropológica e humanista e a sua excepcional capacidade de teorização, criavam na Clinica Psiquiátrica um clima propício ao estudo e investigação fenomenológica. Barahona Fernandes cujo nível de saber e cultura psiquiátricas fizeram dele uma figura ímpar na Psiquiatria europeia, exerceu uma marcada influência sobre os que tiveram o privilégio de com ele conviver. Deixou-nos uma visão antropológica e estrutural da pessoa em situação e das suas modalidades psicopatológicas do adoecer, um modelo convergente e eclético de aproximação às terapêuticas psiquiátricas. Foi um homem que se opôs sempre a todas as formas de pensamento totalitário e a uma visão doutrinária e ideológica das ciências humanas. Defendeu sempre a primazia da clinica em relação a qualquer teoria a-prioristica, num espírito e atitude criticas e de confrontação com os construtos teóricos.
A sua actuação ultrapassou o âmbito da clinica, nas posições que sempre tomou em defesa dos valores e no investimento que sempre fez no ensino e na formação. A ele se deve a implementação do ensino da Psicologia em Lisboa e a introdução da Psicologia Médica no curriculum médico.
Nesta antologia que agora organizamos, os textos de José Manuel Jara e Morgado Pereira refletem bem a influência de Barahona Fernandes e admiração que deixou nos seus contemporâneos. Os dois autores, com muita clareza e inteligência, traçam o percurso e detalham as influências filosóficas, culturais e psiquiátricas que inspiraram Barahona Fernandes na construção do seu modelo de personalidade e nos seus escritos sobre as formas de perturbação e sofrimento do ser humano. A sua leitura permite seguir o trajecto intelectual e clínico de Barahona Fernandes e compreender a complexidade das suas ideias. Já não podemos usufruir do privilégio de compartir as discussões clinicas e observar a sua intuição e subtileza no questionamento dos doentes. Mas podemos ler os seus textos e refletir sobre a desumanização actual da Medicina em geral e da Psiquiatria em particular, num mundo em que é dominante a reificação de todos os nossos actos médicos, de nós próprios e dos doentes que nos procuram.