O Olhar do Anjo

Peis, Anabela França

Foi através do olhar que nos aproximámos. A forma doce como ele olhou para mim, a emoção que senti ao ser olhada por ele daquela forma, bondosa e apaixonada, seduziu-me da cabeça aos pés. Porque me estudava, como se estuda uma lição de amor, sabia-me de cor. Interpretava-me, como se eu fosse um poema escrito por Camões, Shakespeare, Adélia Prado.
Descobria-me aos poucos. Entendia, lucidamente, o que o coração da mulher misteriosa ocultava, antes de dialogarmos, e nos abrirmos um com o outro. Analisava a minha mente, antes de ser eu mesma a compreendê-la. Sentia-me prioritária.
Como candeia acesa, em noite opaca de nevoeiro, ele percepcionava, com exatidão, vendo claramente no escuro e no oculto, o que me faltava, para me indicar e fazer seguir pelo caminho mais favorável e acertado. Via, antecipadamente, muito antes de eu conseguir ver. Descobria, antes de ser eu a descobrir, os talentos que existiam dentro de mim. Por tudo isto, e muito mais, eu amava-o...
Daniel, consolado, absorvia a doçura das palavras que Benedita confiava ao computador.
O olhar dele teve a força e o impacto de me transformar.