Ponta soltas

de vidas atadas

Tomé, Mario

Pelo cheiro adivinhava-se a presença do mar. Eram bem visíveis ainda as marcas que o calor do deserto deixara naqueles rostos. Apesar da fadiga, da fome e da sede, Danniel vislumbrava laivos de esperança naqueles olhares cavados em desesperos e angústias, dos seus companheiros de viagem. Tinham passado muitos dias desde que embarcara naquela aventura. E muitos mais desde o momento em que as suas investigações o tinham empurrado para os perigos daquele desconhecido. Estava prestes a descobrir os contornos daquela maquinação monstruosa que empurrava milhares e milhares de pessoas para um abismo tantas vezes sem retorno. Sentia-se só. Mais uma vez. Dependia apenas de si mesmo. Tinha sido uma imprudência, a raiar a loucura, ter abraçado aquela aventura sozinho. Mas sentira que tinha de o fazer. Devia isso a si próprio e a algumas pessoas que confiaram nele. Quando avistou finalmente o mar, sentiu que ia conseguir. Nunca imaginou que aquilo fosse apenas o princípio de outras tramas, outras monstruosidades. Não estava preparado para o que vinha a seguir...