Retratos, memórias e outras molduras

Matos, Aurora Simões de

No seu percurso de vida é impossível separar a condição de mulher e a de autora. A forma apaixonada, ao mesmo tempo delicada e arrebatadora como defende a vivência rural do Montemuro e Paiva, ou a condição feminina, é modelada por uma escrita pungente, na qual cada palavra ganha vida e sonoridade próprias, que induzem o leitor a fácil identificação com as suas causas pessoais. Em cujo íntimo vivem versos, vivem histórias de verdade, vivem amores e encantamentos. Mas, na sua imensa riqueza e diversidade, também perduram a saudade e os sonhos.
Aurora Simões de Matos é uma das notáveis e complexas figuras da cultura do Douro e do Montemuro. Se, por um lado, semeia ampla simpatia junto de escritores, compositores, professores, jornalistas, artistas ou atores, que animam o único fórum regular dedicado à cultura em Lamego – a “Tertúlia Artes e Letras” – da qual é fundadora e principal dinamizadora, por outro, cultiva certa reserva e independência que lhe emprestam uma aura de mulher livre, da qual não abdica. Mulher que cedo rasgou preconceitos, rejeitou a hipocrisia dos costumes e soube verter para a sua obra literária as causas em que acredita.