Sem método

Correia, João de Araújo

Sem Método é um belo livro, que merece conhecer-se. Todo ele é marcado por um talento excecional; e, composto de notas, de comentários, de pequenos artigos de circunstância, sulca-o, de ponta a ponta, um flamejar de originalidade que, em qualquer país verdadeiramente civilizado, traria logo Araújo Correia aos primeiros planos da vida literária. O que avultará mais à curiosidade do leitor será a linguagem, que por vezes atinge um poder de expressão singular. É a linguagem dum escritor feito. Prosa vigorosa, sóbria, dum equilíbrio raro de técnica. Ajuntam-se as qualidades que só um artista pode evidenciar na profunda vibração psíquica que dá às palavras um valor além do dicionário, pela misteriosa força da emoção transfigurando meras composições verbais em pintura, em música. [...] Mas, ao lado do artista, ergue-se o pensador. Araújo Correia faz sentir, sentindo; e faz pensar, pensando. Visiono a máscara deste homem: idealista entusiasta e ardente, a quem o espectáculo da dor confrange e o contacto forçado com o mal dá indignação e cólera, na sua fisionomia passa um arrepio de sombria ironia... As suas qualidades de artista assentam num temperamento; por isso não são fogo de palha, e terá de exercê-las, queira ou não queira, através dos embaraços das suas ocupações profissionais. O escritor vencerá.