Um dia, sempre teremos sido todos contra isto

El Akkad, Omar

A 25 de Outubro de 2023, quando os bombardeamentos em Gaza se intensificaram, Omar El Akkad publicou o tuite que dá título a este livro.
Tendo migrado com os pais desde cedo, acreditava que no Ocidente encontraria a liberdade e a justiça. Ao longo de 20 anos como jornalista, El Akkad cobriu guerras, revoltas e manifestações. Mas foi sobretudo ao assistir ao massacre em Gaza que os verdadeiros contornos do paradigma ocidental se revelaram: grande parte das suas promessas são um logro, e há muitos grupos de seres humanos que o Ocidente não encara enquanto tal. Um Dia, sempre Teremos Sido Todos contra Isto é uma crónica dessa dolorosa constatação, um debate moral sobre o que significa, enquanto cidadão, talhar um qualquer sentido de possibilidade numa era de carnificina.
Relato cru e vulnerável, registo de uma matança inominável e uma desolada carta de ruptura com o Ocidente, este é o livro do nosso tempo.
"Para lá dos altos muros, do arame farpado e dos postos de controlo que enjaulam este lugar, está o império. E o império também se encontra envolto no seu próprio casulo de linguagem — uma linguagem por cujo prisma os edifícios nunca são destruídos, em vez disso entram em combustão espontânea, e na qual as explosões vêm e vão como os Chinooks sobre a montanha, e as pessoas são mortas como se ser morto fosse a única ordem natural e legítima da sua existência. Como se viver fosse a aberração. E esta linguagem talvez proteja a franja mais sanguinária do império, mas a franja não tem serventia para a má prática linguística. É, pelo contrário, o meio, o meio liberal, bem?intencionado e facilmente perturbável, que precisa desesperadamente da protecção que este tipo de linguagem oferece. Porque é o meio do império que tem de olhar para isto e dizer: Sim, isto é trágico, mas necessário, porque a alternativa é a barbárie. A alternativa aos incontáveis mortos, estropiados e órfãos, e aos que são deixados sem casa, sem escola, sem hospital, e aos gritos debaixo dos escombros, e aos cadáveres de que se desfazem os abutres e os cães, e aos bebés com dias de vida deixados a gritar e a morrer de fome, é a barbárie."