Ferreira, Helena Carla Gonçalo
Editorial: Chiado
Colección: Compendium
Número de páginas: 220 págs. 21.8 x 13.9 cm
Fecha de edición: 01-08-2014
EAN: 9789895116973
ISBN: 978-989-51-1697-3
Precio (sin IVA): 20,70 €
Precio (IVA incluído): 21,53 €
Na leitura da obra de Helena Ferreira fui encontrar o rigor intelectual e académico de exposição das teses contraditórias sobre a origem da Revista à Portuguesa, mesmo que, naturalmente, a autora tenha a sua preferência e a não esconda. Este facto, aliado a um exaustivo percurso histórico – e seu enquadramento – da Revista à Portuguesa, através da observação e análise crítica dos cartazes, fazem do lido uma fonte de novas abordagens – ou abordagens a partir de outros ângulos – que nos remetem o imaginário para os tablados onde acontecia o anunciado.
Mas, a par deste aspecto historiográfico e de apontamento crítico de natureza teórica, como encenador e dramaturgo – embora a Revista à Portuguesa talvez seja precisamente o único género que só conheço do lado da plateia – fico feliz com o pormenor e mergulho num género caracteristicamente português, seja qual for a dominante da sua origem, ainda por cima em declínio. Não sou dos que, mesmo na condição de espectador, aprecie particularmente o género, apesar de nele estarem bons amigos e excelentes profissionais; porém, tal não me impede – julgo que até me autoriza a dizê-lo com mais à vontade – que entendo que há muito que a Revista à Portuguesa devia ser conservada e protegida, à semelhança da Zarzuela em Espanha ou dos Sainetes na Argentina.
Esta falta mais – entre tantas e calamitosas – falhas do Estado Português na vida artística e do nosso património popular, ao menos se atenua na e com esta obra de Helena Ferreira, ajudando – e muito – a perpetuar em registo, o que alguma intelectualidade lusa recusa aceitar ou classifica como coisa menor. Menoridade intelectual que não partilho e me faz ficar contente ao vê-la como objecto de estudo assente no que, de bom e de mau, são as nossas raízes (venham de Gil Vicente ou de apenas há um século e tal, chegadas, no início como cópia das Révues Parisiennes). Sobretudo quando e porque estamos numa grave circunstância histórica de perda da nossa independência e identidade nacionais: economicamente, sim; mas também – e com responsabilidades vindas de antes de quem reconhece estas outras duas – culturais. Porque é bom nunca esquecer que um povo sem memória é sempre mais fácil de abater e dominar.